Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]




De Porta a Porta

por ., em 30.04.18

   

SECURITY FLAWS IN software can be tough to find. Purposefully planted ones—hidden backdoors created by spies or saboteurs—are often even stealthier. Now imagine a backdoor planted not in an application, or deep in an operating system, but even deeper, in the hardware of the processor that runs a computer. And now imagine that silicon backdoor is invisible not only to the computer’s software, but even to the chip’s designer, who has no idea that it was added by the chip’s manufacturer, likely in some farflung Chinese factory. And that it’s a single component hidden among hundreds of millions or billions. And that each one of those components is less than a thousandth of the width of a human hair.

 

Deste modo nos fala o Wired.com da "demonically clever backdoor" com que se perpetra, por estes dias, o cada vez mais sofisticado assalto digital. "Casas roubadas, trancas à porta", é um ditado que já não tem lugar no universo computacional. Porque o pirata-informático consegue abrir novas portas onde elas não existiam. E mesmo que se corra porta a porta para vigiar o sistema, como encontrar, no palheiro dos circuitos e componentes de hardware, a agulha da porta que não estava lá?

O artigo do Wired (que vale a pena ler) concentra-se depois na pesquisa de investigadores da Universidade de Michingan, nas conclusões a que chegaram e nas novas regras que devem ser implementadas para, o mais possível, minimizar este novo problema.

A necessidade aguça o engenho, diz o ditado. Se para os "vigilantes-digitais" isso é verdade, o que aguçará o engenho nos vilões-digitais? O exercício do mal também é movido por uma necessidade?

Uma questão moral a colocar, talvez, a quem o pratica, como estudo de caso. Poderemos talvez ir bater-lhes à porta? Resta saber se nos vão responder.

 

imd | robber-running-fast.jpg

 

 

 

 

 

publicado às 16:14

    O mundo digital é, essencialmente, um mundo de mudança e de constante dinâmica onde a tecnologia está em permanente mutação, o ambiente legal é sujeito a revisões e actualizações e os próprios objectos digitais são, também eles, dinâmicos. Falar de preservação digital pode, pois, parecer à primeira vista um contra-senso.

 

Quem diz isto é Fernanda Maria Campos, Sub-Diretora da Biblioteca Nacional (BN) entre 1992 e 2006. O que Fernanda Campos conclui, num artigo da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas (BAD) datado de 2002 (*1), altura em que as instituições em geral começavam mais seriamente a confrontar-se com o problema da transmigração de dados em papel para o formato digital e consequentes dificuldades de armazenamento, é que "[se] pensarmos (…) na função tradicional das bibliotecas e dos arquivos que consiste em coleccionar, preservar e dar acesso, o problema […] da preservação digital parece (…) fazer todo o sentido."

A colecção de dados, no contexto de bibliotecas e arquivos (porque estes estão contextualizados em obras de relevância cultural, histórica, social, etc., e constituem por isso informação que deve ser coleccionada, organizada e preservada) é uma necessidade inquestionável. Passar-se-á porém o mesmo num contexto empresarial? Ou noutros contextos sociais, mais ou menos lúdicos ou em qualquer outra situação que tenha como propósito adquirir um bem material ou uma dada vantagem?

imd | lost in data 2.png

 

De facto, se informação é poder e se a informação é feita de dados (e ambas as afirmações são verdadeiras), nem todos os dados constituem informação (precisam para isso de um determinado tratamento e que se verifiquem determinadas condições). E o "data hording" (acumulação compulsiva e aprocessada de dados) pode tornar-se em mais um mal do que um bem. É essa a reflexão a que nos leva John Fernandez no seu artigo de 17 de Abril deste ano (2018) na Contently: «Make Sure Data Isn't Your Downfall»

Fernandez conta-nos a sua experiência como jogador de Poker em "Casinos online" na altura do boom do fenómeno (início dos anos 2000); explica as vantagens do aparecimento dos casinos ou salas de jogos digitais e parte do processo de jogo; descreve como se apercebeu da relevância dos dados na análise das tendências, estratégias e formas de jogo dos seus adversários e de como isso o levou a, compulsivamente, jogar de IPad ou bloco de notas em punho para acumular o máximo de elementos possíveis sobre o seu jogo e o jogo dos seus adversários; e apresenta-nos, porfim, a surpreendente conclusão a que chegou: no torneio do World Series of Poker de 2007, após um ano a coleccionar o máximo de dados que pôde, Fernandez verificou que o seu jogo não melhorara. Não conseguira qualquer lucro ao longo dos seus jogos, enquanto o vencedor levava 8,5 Milhões de dólares para casa. O que explicava esta contradição aparente? Aparentemente, nada. E no entanto…

Fernandez descobriu que "data alone was not the solution. In order to be at my best, I needed to optimize my decision-making more than my data collection."

Esta é uma revelação fundamental. Do mesmo modo (e uma vez que) os dados só por si são insignificantes e desprovidos de sentido enquanto não forem tratados, organizados, contextualizados — para se tornarem em informação —, a mera colecção é, só por si, não apenas inútil, mas contraproducente, uma óbvia e penalizante perda de tempo. Porque a mera coleccção de dados não é mais do que uma sala cheia de papéis desorganizados onde temos de conseguir encontrar aquela folha que contém o material que de facto nos interessa (que ainda nem sabemos qual é) para um dado momento de tomada de decisão (TD). Não encontrar a informação certa no momento certo é perder o momento certo e/ou tomar a decisão errada. E isso, sendo mau em qualquer contexto, num negócio, pode levar uma organização a retroceder imensuravelmente no seu desenvolvimento; ou até mesmo à falência. Este momento de tomada de decisão (ou decision-making, segundo a terminologia inglesa tão comummente adoptada no mundo empresarial) é o ponto fundamental de qualquer gestão. Nunca é de mais repetir esta frase:

 

 "Data alone was not the solution".

 "Data alone was not the solution".

 "Data alone was not the solution".

 

E não foi a solução, porque o não é. Focado em particular no universo do marketing, ferramenta indispensável da estratégia de negócios, Fernandez desenvolve as razões:

 

    [M]arketers need strong quantitative evidence to prove the value of their investments, especially to executives and boards of investors. My issue, though, is that many of them seem to be fixated on gathering all the data when they should really put all of their chips into finding the right data.
It’s easy to see why. Every marketing solution on the planet promises that it can measure the most important metrics for your business. The truth is some can; some can’t. Just like poker, the lure of both real-time data for better decision-making as well as databases for more serious analysis can be seductive. But when marketers pile their stacks with more software, they wind up drowning in data.

 

Um estudo conjunto deste ano de 2018 da InsightSquared e da Heinz Marketing, conta Fernandez, revelou que, quanto mais um marketer sabe do seu ofício, mais descontente está com os sistemas de automatismo de marketing. Os dados deixam então de ser importantes? Naturalmente, não, nem por sombras. Os dados continuam a ser fundamentais, pois, sem dados, não há informação e, sem informação, não há sistema humano que se tenha de pé. Mas, enquanto não se encontrar um sistema automático que faça, fidedignamente, essa tarefa por nós, é humanamente impossível:

                                           

1) Coleccionar todos os dados.

2) Analisar todos os dados coleccionados e coleccionáveis.

 

Como resolver então o problema? A solução de Fernandez é mais simples do que se possa pensar: 

 

"[S]tart with one data point that shows clear business impact. That’s it."

 

Do ponto de impacto ao quadro geral em que esse ponto se insere, e daí à compreensão sustentada e informada do que efectivamente importa conhecer para um conjunto adequado de tomadas de decisão, o caminho faz-se como se fosse guiado, sem ser preciso armazenar coleccções de elementos desconhecidos ainda por processar. O campeão de Poker do World Series of Poker de 2007 concentrou-se nesse ponto de impacto e na sua tomada de decisão. Por isso ganhou 8,5 Milhões de dólares. A empresa depende ainda menos do factor sorte do que um jogo de Poker. Com um processo correcto de análise de dados, quantos Milhões pode vir a ganhar?

 

"Make Sure That Isn't Your Downfall" é, já se vê, um conselho de ouro. Um conselho que Joseph James DeAngelo não leu atempadamente, talvez por já não pertencer à geração computacional. 

DeAngelo, para quem (felizmente) não o conhece, é um antigo polícia da California (dito o Golden State) e o infame Golden State Killer, que aterrorizou a costa Oeste entre 1978 e 1986. Suspeito de dezenas de violações e assassinatos, este serial killer, à boa tradição do psicopata americano, que os faz como ninguém e à tiragem das caixas de farinha Amparo, aterrorizava e torturava as suas vítimas antes de as levar deste mundo.

Durante anos eludiu as autoridades, que nada conseguiram fazer, apesar de coleccções de ADN (dados, os eternos dados), para o identificar e encontrar. Até que…
Dados, os eternos dados, puderam contextualizar-se por meio do site open source de Genalogias GEDmatch e voilà! Eis que se identifica um fantasma. Os dados foram de facto a queda de DeAngelo (a queda de um anjo que era afinal um demónio — quiçà como todos os anjos), porque os foi, durante décadas, espalhando por aí e tentou um dia, em linha, descobrir de onde vinha, de que linhagem, quem era. Se DeAngelo acaso não pôde definir como queria a sua identidade, a polícia definiu quanto quis, isto é, quanto lhe bastasse para o encontrar e prender. E agora o anjo está por trás das grades — senão para a eternidade (não será esse tipo de anjo), pelo menos com pena perpétua. E, se há justiça no mundo, desta vez, parece que nos serve. Por causa desta coisa esquisita a que se chama "dados".

Poderão alguns dizer que é um caso de sorte. Eu, que não acredito na sorte, estou mais convencido, como mostrou Fernandez, que o que importa de facto é jogá-los bem. E, voltando ao problema inicial de Campos (a Fernanda, não o Álvaro dos textos pessoanos de silenciosa e poética histeria), escolhidos e processados os dados certos, temos só de descobrir como guardá-los; e guardá-los bem — para que mais tarde nos sirvam, sempre que necessário. 

Os usos, como se viu, são intermináveis. Haja quem saiba usá-los.

 

—————

(*1) (CAMPOS, Fernanda Maria — Informação digital: um novo património a preservar. Cadernos BAD: Preservação digital: experiências e estratégias. Lisboa: BAD. ISSN 0007-9421, Nº2 (2002) p.8-14

 

imd | big-data.jpg

 

publicado às 10:12

Diz que é uma espécie de humor e, seja isso ou não (o que depende dos gostos), vai estar disponível, em modo opera omnia, nos anais do YouTube. Falamos, claro está, do trabalho conjunto de Miguel Góis, Tiago Dores, José Diogo Quintela e RAP. Os entendidos nestas coisas da web e em arquivos digitais dizem que se tratará da concentração de todos os sketches dos já extintos Gato Fedorento  (2003-2009) num único canal. Ricardo Araújo Pereira, que, adequadamente, não é entendido em nada, senão em fazer rir e pensar (o que vale bem pouco, como muito se sabe), explica o mais importante: «Não é bem um canal, é uma arrecadação no YouTube». 

RAP compreende que, por mais digital que seja o armário, o humor dos Gato Fedorento nunca ficará bem armazenado se não trouxer consigo "aquele toque" a naftalina e traça.

 

gato fedorento.jpg

 

publicado às 17:13

"O 25 de Abril de 1974 deu-se antes sequer de se pensar globalmente a internet". Mas se tivesse sido relatado no Twitter…?

Esta é a interrogação que se fez Paulo Jacob, membro português da Linux Foundation (fundação dedicada ao desenvolvimento de software open-source). Com a colaboração de Mariana Correia, como conta o Shifter, o "programador português desenvolveu um software que, todos os anos por este dia, relata em tweets e ao minuto os principais acontecimentos do 25 de Abril."

Venha o que vier, a Liberdade continua sem fechar o bico; e tem um novo pio.

 

twitter.jpg

 

publicado às 11:28

«The Cre­ative In­de­pen­dent [noticia o Shifter.pt] apresenta-se como "um recurso de orientação emocional e prática para pessoas criativas."». O princípio é:

 

" [T]odas as pessoas são criativas e precisam de inspiração."

 

Há quem lhe chame Instagram-de-frases-feitas. Se o rótulo resume a forma, não lhe resume o sentido: The Creative Indipendent tem mais do que as frases-tipo-mensagem-de-bombom em formato digital: quem vê-lê também encontra críticas, comentários sócio-artísticos, só-artísticos, sol-artísticos, impressões e expressões que, mais do que tudo, darão que criar.

E, como acréscimo, quem quiser, poderá também pensar no assunto.

 

want to share it.png

 Certo é que, depois de feito, partilhar será provavelmente irrestível. Como este post, por exemplo.

publicado às 21:33

Que farei com estes dados?

por ., em 12.04.18

Maria Fernanda Rollo, Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Jornadas FCCN, 12/04/2018, pelas 10 horas da manhã:

«Há muitos anos que se pergunta aos arquivistas: o que fazemos com dados?»

A pergunta faz-se, e a confusão aumenta:

Era digital, RGPD (Regulamento Geral de Protecção de dados); Transformação digital, Digital como Património, Dados abertos, Cidadania digital, Ciência Aberta, Ciência cidadã, Cidadania científica (Eixos); Big data, perdas digitais, reprodutibilidade, competências digitais, protecção e privacidade, responsabilidade social (Cenários); Cibersegurança, criptografia, combate à fraude, Bitcoin (e econimias paralelas), ciberterrorismo (Medos)…

Tudo indica que os arquivistas vão ficar ainda muitos anos a perguntar-se e a ser perguntados «o que fazemos com os dados?»

«Deus não joga aos dados», dizia Einstein, para rebater os quânticos. Dizia-o, porque Deus (pelo menos o de Einstein) nunca viveu na era digital.

 

Andertoons — Before I write.png

 

publicado às 10:17

diz o Público: "Onde um humano vê uma cabra, um computador vê um gato. Ou uma bailarina. O passatempo preferido de Janelle Shane é pôr a inteligência artificial a aprender sobre o mundo — e mostrar como ainda falha."

 

Captura de ecrã 2018-04-10, às 10.19.17.png

 Certo é que, para máquinas ou entidades mais humanas, como, por exemplo, pessoas, é difícil, por vezes, percebermos exactamente o que estamos a ver. Quase poderia apostar, de minha parte, que, de momento, estamos diante de uma bailarina; ou de um banqueiro. Um dos dois é altamente possível.

publicado às 10:20

Garagem Digital em Saldo?

por ., em 04.04.18

Diz o VentureBeat: A Amazon lança um novo sistema de armazenamento (em camadas) para dados que quase não usamos. Como uma garagem digital a baixo preço para aquelas coisas que não sabemos se queremos ou não deitar fora, mas que não queremos, também, a atrapalhar pela casa.garagem.jpg

Solução inteligente para não perder dados não prioritários (mas potencialmente úteis), ou poluição digital e mera acumulação de lixo tecnológico em forma de bytes e um terrível odor binário? E, para o digital, não há reciclagem?

Fica a dúvida sobre este tema e também sobre a escolha do leitor. Sejam elas quais forem, boas arrumações!

 

 

 

publicado às 22:33

Quem quer viajar, quer onde ficar. Na net encontramos o Booking.com ou Trivago, "agências" online que cotejam ofertas automaticamente para nos mostrar "o melhor preço", perguntando apenas «Para onde quer ir?». Mas, o viajante mais expedito e aventureiro leva a web para o outro nível: não agenda o Hotel, pede o sofá emprestado (é o Couchsurfing); e, de sofá em sofá, viaja sem pagar a estadia. Há pessoas, porém, para quem isso não chega: Anthony Botta, belga de 26 anos, leva o outro nível para o outro nível — com recurso a uma terceira app-em-rede, o Tinder, site de "personality match" e encontros, Botta faz Tindersurfing e uma única pergunta: «Wanna be my host?». A julgar pelo que já visitou em apenas dois meses, parece que a resposta tem sido maioritariamente: «Sim!».

 

ts match.jpg

 

publicado às 18:09

Uma das marcas da Web 2.0 é o aparecimento de Repositórios, em particular de Repositórios Científicos onde se armazena e compila o que de melhor se produz, por exemplo, a nível académico. Estes Respositórios funcionam num regime open access, i.e., de acesso aberto, de todos para todos. A Sociedade dispõe de diversos serviços que, sendo de natureza pública, e publicamente financiados, deveriam igualmente ser (e esperar-se-ia que o fossem) de acesso aberto e publicamente apreciados; e, no entanto, estranhamente, descobrimos que, sendo publicamente financiados, estão vedados ao público, nas mãos dos privados que, do que é de todos, procuram fazer um lucro.waiting long.jpg

Este caso (que deve preocupar-nos) é discutido de modo exemplar por Erica Stone nesta recente conferência TED:

 

"Academic research is publicly funded. Why isn't it publicly available?"

 

Quem souber (provavelmente os culpados), que responda à pergunta.

publicado às 00:06


Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.